Maria Hermínia Cantanhede Coelho
A
escola hoje tem que se responsabilizar em cumprir um papel que há alguns anos
atrás era assumido pelo espaço livre. Os quintais, as portas das ruas, as
quintas de terra cujos donos eram as crianças que por ali brincavam não existem
mais. Os quintais desapareceram, as portas das ruas foram ocupadas por um
frenesi de motos e carros que dia e noite se misturam numa pressa sem fim, e as
quintas de terras foram ocupadas pelos grandes condomínios residenciais. As
nossas crianças, as crianças de hoje só podem contar com o espaço da escola
para vivenciar experiências tão necessárias ao seu desenvolvimento psicomotor e
social, pois as brincadeiras não se configuram puramente como instrumento de
desenvolvimento de questões relativas à psicomotricidade, mas são também espaço
de construção social, de regras de convivência, de resolução de situações de
conflito e de cooperação. A escola precisa criar, então, espaços onde as nossas
crianças tenham garantido o direito à brincadeira. Quanto menor a criança, maior é a
responsabilidade da escola em transformar espaços em ambientes que possibilitem
e favoreçam a brincadeira.
A
creche Recanto dos Pássaros é uma escola que sempre se preocupou em garantir na
sua rotina situações em que as brincadeiras livres ou dirigidas pudessem
acontecer. A partir da ampliação para o Tempo Integral esta preocupação
tornou-se responsabilidade, e as formações oferecidas pelo Instituto Formação
deram às nossas professoras o suporte necessário para contemplarem nas rotinas,
atividades de movimento, musicalização, teatralização, dentre outras.
Nas
oficinas realizadas com as professoras foi possível perceber o quão carente é a
nossa formação acadêmica no que se refere ao desenvolvimento de habilidades
necessárias ao fazer pedagógico com crianças pequenas, relacionado à
compreensão da necessidade de deixarmos aflorar a criança brincalhona que fomos
o que a educação e o tempo aprisionaram. Contudo, na medida em que as oficinas
eram realizadas pelo Instituto Formação junto às crianças e professoras, fomos
percebendo que estas não eram mais as mesmas. Desta forma, elas “saíram do
armário” na oficina de Teatro para bebês e nunca mais voltaram para dentro dele,
e a cada dia elas estão mais longe dos “armários”, pois não importa só “sair do
armário”, é necessário nunca mais se deixar entrar em nenhum outro. Descobriram
a sua ignorância perante a música e, assim como os pássaros do RP (Recanto dos
Pássaros), se permitiram voar por entre notas e diversos sons e ritmos. Mexeram
o corpo pra valer na oficina de movimento, e deram um “show” no handebol.
As
formações iniciaram-se logo no 1º semestre letivo, e, não se sabe ao certo em
que momento aconteceu a total fusão entre os profissionais do Instituto e as
profissionais do RP, tamanho o envolvimento de ambos os profissionais em uma
história de construções e reconstruções às quais resultaram em fugas
sorrateiras e fugas desenfreadas dos vários “armários” que aprisionam a nossa
criatividade e a nossa alma de criança.
Concluo
este texto com a seguinte afirmação:
_____________________________________
Coordenadora Pedagógica na UEB Recanto dos pássaros.
Hoje temos a convicção de que estamos no
caminho certo para “sair do armário todos os dias”, e, transformar os espaços
do RP em ambientes que permitam às nossas crianças serem e vivenciarem a
experiência de serem crianças, mesmo que os quintais não mais existam; que as
ruas tenham ocupantes ansiosos e com pressa de chegar a lugar nenhum; mesmo que
as quintas tenham sido ocupadas por grandes condomínios.
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